NICHO BLACK: copywriting de verdade ou normalização do 171?
"Sua oferta é boa quando está no ReclameAqui. Quando está no Fantástico, já é errada demais” – algum especialista em nicho black golpes online.
A casa caiu para muita gente. Alguns golpes divulgados na internet estão começando a aparecer na televisão e nas delegacias.
Para pessoas normais, oferecer um jogo de panela da Tramontina por R$ 100 e nunca entregar é golpe e/ou estelionato; mas, para algumas pessoas que trabalham com marketing digital, isso é uma das mais fracas ofertas de nicho black.
Se você é novo nesse mundo, uma oferta de nicho black é um golpe arquitetado para enganar gente inocente ou gananciosa: cura da diabetes, ar-condicionado da Havan por R$ 500, etc.
Utilizando anúncios online e inteligência artificial para criar deep fakes de famosos, algumas pessoas enxergaram uma oportunidade de ouro para fazer uma grana roubar gente pouco instruída ou desatenta.
Não é de se surpreender que quem está por trás desse tipo de operação acaba fazendo uma boa quantia de dinheiro – apesar de que, até agora, eu nunca vi um ladrão bilionário. Algumas dessas figuras até se dizem copywriters, como eu e você.
O que pode nos levar a pensar o seguinte: por que eu deveria entrar em um mercado onde, pelo mesmo nome de profissão, eu posso falar tanto do Washington Olivetto, como de um estelionatário?
Copywriting: uma profissão nova para problemas antigos.
Você talvez ainda não saiba, mas a persuasão não começou com gatilhos mentais ou copywriting. Na verdade, a ciência do convencimento existe há séculos: é conhecida pelo nome de retórica.
Quando homens se reuniam em um tribunal, utilizavam da retórica para absolver ou condenar alguém. Quando rebeldes conquistavam o povo para reinvidicar direitos ou convocar guerras, utilizavam da retórica para lutarem por um ideal.
A retórica não é boa ou má em si mesma, assim como convencer alguém a comprar um produto – a princípio – também não é.
A persuasão tradicional não se baseia em mecanismos mágicos que mudam uma opinião no apertar de um botão. Para esta ciência, uma opinião só pode ser alterada se já existia na audiência de alguma outra forma.
Neste sentido, um retórico não cria movimentos, mas canaliza os desejos do público em um objetivo.
Para exemplificar, imagine um líder de sindicato que está reunindo trabalhadores para uma greve.
Objetivo final: greve.
O que o orador quer: criar um movimento sindicalista.
O que o público quer: melhores condições de trabalho, melhores salários, etc.
Portanto, o trabalho do orador é conectar os desejos e aspirações do público com o objetivo final. Se ele quisesse reunir o público para uma greve sem mostrar que esta é o veículo que irá realizar os desejos dos trabalhadores, eles não iriam apoiar.
A greve não existe como desejo natural do público em questão – talvez apenas de uma pequena parcela que, em uma possível contagem de votos, seria de um volume insignificante.
A retórica não muda a vontade de ninguém, mas mostra que, para a vontade da pessoa se realizar, ela deve fazer X, e não Y como ela pensava inicialmente.
E se o orador for malicioso ou, no nosso contexto, o produto for mentiroso?
Neste caso, perde-se a credibilidade e, sem credibilidade, não é possível convencer ninguém.
Se sou parado na rua por um homem que eu sei que mente em tudo o que diz, não vou dar atenção a ele e muito menos me deixar ser convencido.
Um mentiroso pode enganar uma única vez. Mas ele pode enganar uma única vez muita gente ao mesmo tempo – e é assim que essas pessoas fazem dinheiro.
É claro que essa é uma solução simples. Em um contexto moderno, onde a psicologia, o controle social e o avanço da tecnologia e da mídia exercem uma força comportamental nas massas, existem outros elementos que condicionam as decisões individuais além da retórica, mas entender esse mecanismo não é nossa intenção aqui.
Voltando para o marketing.
Como se posicionar nesse mercado?
Em primeiro lugar, não tenha vergonha de ser copywriter. Muita gente vai se encher de dedos para dizer "eu sou copywriter mas, veja bem, não do jeito que você está pensando…". É o "desculpa por ser homem" do nosso mercado.
É claro que tem muita gente desqualificada, mal-intencionada, etc. Mas você simplesmente não precisa estar nesse grupo.
Um copywriter é um solucionador de problemas. É um criador de pontes entre bons produtos e o público.
Boas causas precisam de bons oradores. Ou você vai deixar que vendedor do nicho black seja a profissão do futuro?